Texto do livro Tropifagia 2020
O breve texto abaixo é parte do livro Tropifagia: comendo o País Tropical (Edufba, 2020) e apresenta o aspecto principal – o trânsito cultural e a troca criativa entre a diversidade – do trabalho desenvolvido pelo projeto Narrativas de Brasis. Mais recentemente, chegamos à conclusão de que o termo intercâmbios culturais não é o mais adequado para a ideia que defendemos, entretanto, em 2020, foi a expressão utilizada para definir a ideia artística de encontro entre criadores e pessoas de diferentes grupos da sociedade.
“Só me interessa o que não é meu”: brevíssimas reflexões antropofágicas – Thiago Pondé”
Em determinada passagem do Manifesto Antropófago, contemplamos o enunciado acima. É dele que emerge a proposição que envolve a Cena Tropifágica: os intercâmbios culturais. Vivemos perante inúmeros códigos socioculturais e, sob esses códigos e as experiências adquiridas, nos constituímos como sujeitos formadores de juízos e valores acerca do mundo. A lei máxima antropofágica evoca uma proximidade fundamental com códigos distintos aos quais estamos acostumados, no sentido estético e antropológico. O processo criativo sugerido pelos intercâmbios culturais da Tropifagia visa gestar um paradigma específico de convivência entre diversos grupos sociais, tendo a arte como meio de criação de sentidos, linguagens e mediações das experiências coletivas. Cabe-nos forjar espaços que reúnam pessoas de distintos aspectos identitários, para provocar a aproximação e o tensionamento das diferenças, resultando em novos e desafiadores arranjos sociais. A partir da experiência estética proporcionada pelos intercâmbios culturais, o sujeito pode transitar pela interidentidade, ressignificar a si mesmo, ampliar o juízo autorreferenciado, e abraçar a diferença como realidade extensiva e contínua da vida.
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